Palavras

Pisei por terras desconhecidas, terras mortas ou meio vivas.
Passei por ruas cenográficas, sem certidão de nascimento, ruas que depois de algum tempo passariam a ser apenas chão batido, pisado, destruído. Somente chão; algo sem sentido, sem expressão.
Passei por lugares que me faziam sentir como se eu estivesse fora do meu habitat; era como peixe nadando na areia do deserto, era como ave noturna preferindo voar de dia.
Sentia como se inalasse cianeto ao invés de oxigênio, como se minhas feridas fossem costuradas com faca ao invés de agulha. Isto doía, aquilo sufocava.
Eu me sentia tão só naquele mundo escuro. Ficava encolhida no canto daquela parede pixada de vermelho e de cinza. Chorava baixinho, pois sentia medo de que os outros me ouvissem; queria apenas que a Paz me escutasse.
Sentia como se mãos ásperas cobrissem meus olhos, como se uma corda feita de arame enforcasse meu pescoço.
Não tinha voz para gritar, não tinha olhos para ver, nem forças para correr. Tinha apenas as palavras que há muito tempo havia guardado na alma e esquecido lá no fundo.
Minhas mãos estavam frias, meus dedos não se mexiam mais; não podia tocar nada além do meu próprio coração, mas tocá-lo, ainda que só ele, fez a diferença.
Meus medos foram embora, nada mais me sufocou. Pude deixar o escuro e passei a morar na luz que sempre esteve acesa, mas que não me deixavam ver.
A guerra que tentava me atingir correu para longe de mim, pois a Paz me escutou e veio ao meu encontro, tirando todos os espinhos, todas as amarras, me deixando livre e preenchendo o vazio que me fazia fraca.
Essa Paz não é a paz que o mundo conhece, não é apenas o branco das bandeiras, o pôr-do-sol que inspira os poetas. Essa Paz não rasga com o passar do tempo, ela não vai embora quando a noite chega.
A Paz de que falo não é um anônimo, não é imaginação; conheço o seu nome e o tenho tatuado no meu coração: Deus. Minha paz.
25/10/08