sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Palavras certas


Debruçado está o meu coração sobre essas letras; atônito admira as partes do papel em branco e pulsa mais forte quando, ao invés de observá-las, passa a escrevê-las.
Passeia entre as linhas, descalço e cuidadoso, sem esbarrar nos contornos e ferir o espaço de cada palavra. Isso, porque cada frase tem sua identidade, seu modo de se dizer, seu jeito de construir e desconstruir argumentos, certezas ou indecisões.
Cada ideia tem a liberdade de se expressar como é, no momento em que sai da alma, pura e crua, para depois ser temperada, cozida, moldada, de acordo com o gosto daquele que a lê.
Cada palavra tem a nossa voz; cada uma expressa o sussurro quase inaudível do nosso coração ou o grito da nossa alma; o grito entalado na garganta.
Cada palavra que, de alguma forma, precisa ser dita, tem a missão de nos retirar das prisões que nos cerceiam, de trazer leveza à alma e evitar maiores dores futuras, mesmo que, a princípio, isso fira mais do que tudo que um dia pensamos ser capazes de suportar.
Quem não usa as palavras, quem não diz, seja para si mesmo, seja para as folhas de papel ou para quem está disposto a ouvir, morre por dentro, pois não consegue se esvaziar de si mesmo, guarda para si um peso que, em algum momento da vida, se tornará insuportável.
Muitas vezes, toda a dor de uma vida está presa a uma palavra não dita, guardada lá dentro, como veneno que degenera cruelmente, sem que se saiba exatamente de que tipo ele é, para que se possa combatê-lo. 
Muitas vezes, aquele medo insistente, aquela frustração escondida, a dureza de coração, são fruto de palavras mal ditas e não jogadas pra fora da alma.
É preciso dizer as palavras certas, no momento oportuno, com o coração aberto e descalço, sem que se possa retê-las onde não devam ficar. Palavras precisam ser ditas, pois devolvem aquilo de que se necessita para viver; o ar, o sentido da vida. 
Palavras entaladas na garganta apenas tornam amargo o que poderia ser doce, trazem dores evitáveis à alma e distorcem o modo de se perceber o bem ou o mal que há por perto.
O silêncio deve existir, mas não como algo que sufoca. É preciso que se saiba ponderar quando escrever e quando deixar a folha em branco. É preciso que o medo não impeça a palavra necessária ou que o impulso desfira a palavra errada. É preciso aprender a utilizar as palavras e deixar-se ser utilizado por elas.

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