Palavras

Às vezes parece ser minha culpa quando o mundo se cala.
Parece que todos me querem longe e ao mesmo tempo perto. Por quê?
Ninguém mais olha em meus olhos, pois sentem medo de que eu desvende o mapa das pupilas e encontre o cisco que está fazendo os olhos arderem.
Ninguém mais sorri, já que o sorriso pode querer dizer “obrigado” e fazer-se entender “eu te amo”.
Ninguém mais abraça os problemas dos outros; acham que apenas os seus problemas já ocupam a área contida entre dois braços abertos. Acham que não há lugar para mais nada, para mais ninguém.
Tudo está em silêncio, até as lágrimas que o céu derrama de vez em quando com alguns trovões; até elas não caem mais.
O vento parou de soprar, o Sol está sufocando os pensamentos, está queimando neurônios.
O suor já não tem gosto de sal, não parece mais gota de água. Agora, suor é sangue, tem cor de violência e sai da alma com dificuldade.
Não quero machucar a minha alma, não quero arrastar por ela essas hemácias que saem tão revoltadas de dentro de mim.
Não quero que minhas mãos permaneçam vazias, quero que elas compartilhem algum pulso, que elas sintam outras vidas.
Quero que o mundo volte a respirar, pois estou ficando sem oxigênio, estou morrendo devagar.
Preciso que meu coração volte a bater, preciso de forças para poder dizer que ainda há um jeito de resolver tudo.
Preciso de uma oportunidade para ver o mundo como ele já foi um dia, para vê-lo como eu queria que estivesse agora.
Preciso de provas que me façam acreditar que eu não tenho culpa por ele estar desse jeito.
Somente assim minha alma estaria curada de todas as feridas; somente assim eu teria minha vida de volta.
04/11/08